Arywka, o pajé que foi biblioteca viva de saberes das medicinas Apurinã

Também conhecido como pajé Leôncio, foi um dos maiores conhecedores da medicina Apurinã, no Amazonas.

Arywka, ou “movimento rápido” na língua dos Apurinã, foi um dos maiores expoentes da cultura deste povo que os não-indígenas puderam conhecer. Também chamado de Pajé Leôncio, a trajetória deste cientista e liderança espiritual dos Popukare, como se autodenominam os Apurinã, está retratada em trabalhos e pesquisas realizadas nas academias dos não-indígenas. 

Ele é fruto da resistência de sua mãe, a também pajé Kamapa, sobrevivente da política de extermínio do governo brasileiro contra os indígenas do sul da Amazônia durante o Ciclo da Borracha. No dia em deixou seu território ancestral, a mãe de Arywka viu muitos parentes morrerem lutando, mulheres mortas e estupradas, malocas incendiadas, crianças esfaqueadas. Os poucos que conseguiram escapar fugiram pelos rios, igarapés e locais debaixo da terra.

Arywka, ou pajé Leôncio, um dos maiores conhecedores da medicina Apurinã. Foto: Divulgação/Museu Amazônico

Arywka nasceu em 1924 na região do rio Sepatini, que fica no que conhecemos hoje como o município de Lábrea (AM), era o mais novo de cinco filhos. Desde cedo, sob orientação de sua mãe, aprendeu a usar o que a floresta oferece para o bem-estar e cura de doenças. Não tardou em se tornar uma biblioteca viva do conhecimento ancestral do povo Apurinã.

Com o apoio de antropólogos do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e professores da Universidade Federal do Acre (Ufac), viajou para diversos locais do Brasil coordenando cursos para a formação de sabedores das ervas medicinais e curando indígenas e não-indígenas. Ele foi o responsável pela popularização do Awyry, o rapé verde, principal elemento da medicina Apurinã.

Em 2012, dois anos antes de se encantar, Arywka foi homenageado com uma sala de exposição permanente sobre a cultura Apurinã no Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus (AM). O local foi eleito pelo próprio pajé como um espaço sagrado. Em 2022, ele foi um dos homenageados do Museu Amazônico na 20ª Semana Nacional dos Museus.

O pajé começou a frequentar o local em 1997, vendendo ervas e realizando atendimentos. Certa vez, durante uma exposição intitulada ‘Memória Amazônica’, uma jornalista perguntou a ele o que achava da mostra. Ele respondeu que ao ver adereços do povo Apurinã expostos no local, ficou imaginando como aquelas coisas teriam chegado até ali e chorou.

As informações sobre o pajé fazem parte da dissertação do pesquisador Alan Miguel Alves, intitulada “Maloca das Medicinas e sua Relação com o pajé Arywka“, e do Museu Amazônico da Ufam.

*Conteúdo publicado originalmente pelo Observatório BR-319. Para mais informações acesse Observatório BR319

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